Publicado em Produtos e Serviços, Reflexões

Sou todos

Eu sou o bebê que morreu no ventre da mãe, porque ela não tem comida na mesa, nem sabe como me cuidar, mas a culpa é dela, quem mandou engravidar?

Eu sou a criança negra, que aos 3 anos de idade foi isolada e xingada pelos coleguinhas, só por ter a pele escura. Mas isso é normal, a culpa é minha, era só não me aproximar.

Eu sou a menina ou o menino, que aos 10 anos sofre todo tipo de discriminação, por ter um comportamento diferente do dito ‘normal’. Aquela menina que gosta de bola ou o menino, que gosta de panelinhas. Mas também, a culpa é minha, que insisto em ser assim e não fico na minha.

Eu sou o adolescente que não é aceito na turma, por não ter o smartphone da moda, nem o tênis mais ‘top’, sou aquela adolescente que não se encaixa nos ‘padrões’ de menina de família, porque tenho que me virar para sobreviver. Mas a culpa é minha, eu não me esforço para vencer.

Eu sou o homem que não é bem recebido, por ser pobre, negro ou homossexual. Mas a culpa é mesmo minha, eu deveria ser ‘normal’.

Eu sou a mulher que tem 6 filhos pequenos, fui abandonada pelo ‘marido’. Ele tinha razão, criar 6 crianças é bem complicado. Mas a culpa é minha, afinal, por que ter tantos filhos?! Sabe que homem é assim mesmo, desmiolado!

Eu sou aquele que tem um filho gay e ele chegou em casa espancado, por meninos da mesma idade, que se acham muito ‘homens’, assim eles foram ensinados. Mas a culpa é minha, quem mandou criar filho ‘veado’?

Eu sou o menino pobre, que foi trancado em uma sala, revistado e humilhado, porque o segurança achava que o produto era roubado. Eu respondi que não, que eu tinha comprado. Chego em casa arrasado, revoltado. Mas a culpa é toda minha, eu fui mal-educado.

Eu sou aquela menina que foi violentada por ir e voltar da escola sozinha, já que meus pais saem às 4:30 e voltam só às 20:00, em busca de uns trocados. Mas a culpa é minha, eu tinha que ter mais cuidado.

Eu sou o trabalhador, que enfrenta fome e frio, sai de casa na ‘madruga’ e é confundido com malandro. Mas também, a culpa é toda minha, que só uso esses molambos.

Eu sou o idoso que gasta o salário em remédios e não tem condição de se manter, mas para quê? Já não sirvo mais para nada, melhor morrer!

Eu sou a madame, rica, bem vestida e maquiada, que frequenta as ‘altas rodas’ e apanha calada. Mas a culpa é minha, é o preço que se paga.

Eu sou o avô que criou o neto, apesar da muita idade, e da aposentadoria mirrada, dei o meu máximo na empreitada. O garoto virou problema, sem escola, lazer ou cultura. Mas a culpa é minha, eu sou o único responsável pela criatura desajustada.

Eu sou o professor, o enfermeiro, o executivo, o assistente e o faxineiro. Eu trabalho duro, com honestidade, mas não ganho dinheiro. A culpa? Ela é minha. Eu sou um fraco, devia ser mais guerreiro.

Eu sou pai, mãe, filha, criança, jovem, velho, sou todos e todos são eu, por isso não posso me calar, preciso falar, lutar e me defender. Chega de distinção, todo mundo é igual, IGUAL, irmão!

Se existe a tal culpa, ela não é só minha. Ela é nossa e é nossa a solução.

Janaina Pereira – 01/10/2018

Autor:

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